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sábado, 27 de setembro de 2008

Fernando Pessoa. Publicitário?

- Primeiro estranha-se. Depois entranha-se.

- Uma cinta Pompadour; veste bem e ajuda sempre a vestir bem.


Fernando Pessoa ligou-se à publicidade nos últimos dez anos da sua vida. Desenvolveu o seu espírito de redactor publicitário porque cria que devia estudar-se o público primeiramente e, só depois, proceder à elaboração dos anúncios. Pessoa entendia, e bem, a importância da publicidade para o sector do comércio. Estava de tal modo empenhado nesta actividade e na sua teorização que para além de compor anúncios, também criou novas formas de publicidade, entre elas, “Advertising Crosswords” (em português, palavras cruzadas publicitárias. Para reforçar ainda mais o seu papel na publicidade em Portugal, admite-se que foi Fernando Pessoa que enunciou o conceito de “marketing” desconhecido na altura. O escritor construiu, entre outros, os dois slogans acima citados para os anúncios de imprensa.

domingo, 21 de setembro de 2008

Missão abortada

A Francisca era uma adolescente colossalmente anti-social e introvertida.
Eu e o Duarte juntámo-nos a ela para um trabalho escolar e, tal como ela preferiu, combinámos fazê-lo em sua casa.
Senti uma certa suspeição quando entrei no quarto. Um quarto enigmático. E simples. Demasiado simples. Nem um único elemento de decoração.
Este facto aliado ao mistério que envolvia a vida da Francisca, fez-nos crer que algo descomunal decorria.
Os policiais sempre me fascinaram. Descobrir o que a Francisca encobria seria fantástico.
Passámos a seguir a Francisca durante os tempos lectivos. Mas ela agia de forma normal! Porque razão nos intrigava tanto o seu quarto?
Obviamente, a Francisca vivia para além da escola. Começámos a espiá-la em horário pós-escolar por todo o lado. Ainda não descobrindo nada, mas com a desconfiança elevada, abdicámos da vida própria para a perseguir também nos “dias inúteis”. Concluindo, estávamos todo o santo dia “com” a Francisca. Desde o acordar do sol até ao seu deitar.
Uma semana sucedeu e nada nos veio ao pensamento! Finalmente, ocorreu-nos a evidência. Era com a lua que a Francisca mantinha um segredo.
Por três vezes estivemos na escuridão na esperança. À quarta vez, ouvimos um murmúrio nas traseiras da casa da Francisca. Corremos silenciosamente. Sim, era a Francisca! Mas onde iria a rapariga naquele momento?
A Francisca carregava duas mochilas e vestia um fato singularmente esquisito, mas que aparentava confortabilidade.
A Francisca iniciou uma acelerada corrida até ao fundo da rua onde apanhou um táxi. O táxi com direcção à ponte de saída da cidade. Ambos calçámos os fiéis patins e seguimos a viatura entre atalhos.
Na ponte, já um grande carro a esperava. A Francisca apanharia boleia daquele luxuoso carro. Como poderíamos continuar a perseguição digna de filme?
Convencemos o taxista “da” Francisca a acossar o automóvel que a tomara.
Após duas horas de plena e empolgante perseguição, uma dura viagem para ambos os automóveis devido ao mau estado em que se encontrava a via, aproximámo-nos de uma fábrica bem escondida num extenso arvoredo a uma mínima distância da auto-estrada.
Estávamos como que perdidos, porém, tínhamos a convicção de que era naquele momento obscuro que a verdade iria emergir.
Entrámos na fábrica sorrateiramente logo atrás da Francisca e de dois altos e fortes indivíduos, aparentemente trintanários, que a acompanhavam.
Qual o nosso enleio quando nos apercebemos do assunto da conversa entre aqueles três - a Francisca fora escolhida para roubar umas recentes descobertas químicas. Descobertas estas que iriam revolucionar o mundo farmacêutico e cuja venda renderia muito.
Sobrevimos o grupo negro e escondemo-nos por detrás de um biombo no qual estavam afixadas as normas do laboratório.
Fulano e sicrano prepararam os equipamentos e contaram com os movimentos de ginasta da Francisca (sim, ela e a mãe eram incríveis ginastas, com uma certa notoriedade) para a fazer atravessar os pontos de alarme sem que fosse reconhecida a sua presença.
A rapariga já tinha percorrido metade do caminho quando o seu cansaço se começou a fazer sentir. Os homens encorajavam-na, já que aquele roubo ia fazer o trio mais rico e supostamente mais feliz…
Pouco tempo depois, já a Francisca se queixava audívelmente. O seu leve e franzino corpo estava dorido.
A Francisca desequilibrou-se e caiu ao chão.
Assim que os dois gigantes se aperceberam do sucedido, ao ouvir o alarme soar, desapareceram num estalar de dedos, deixando para trás a jovem e magoada Francisca.
A polícia iria chegar… iria apanhar a Francisca… e consequentemente a nós!
O nosso egoísmo falou mais alto. Escoámo-nos dali em direcção à auto-estrada. Tudo o que mais desejávamos era abandonar aquele medonho lugar.
Telefonei, então, à minha mãe que veio buscar-nos num ápice, exigindo explicações. Expliquei… mas nunca a verdade!
E desde então nunca mais se viu a Francisca.

Meses mais tarde, veio a saber-se que a Francisca fora presa numa remota cadeia. Aquele não tinha sido o primeiro roubo em que ela participava… Seria o último?